Não cometo o pecado de condenar a ingenuidade. Todos nós já fomos ingênuos alguma vez na vida - nem que seja apenas quando nascemos. «E todos nós já cometemos alguma loucura por amor» - foi o que eu disse essa semana ao meu último cliente da noite, acrescentando a seguir: «Mas o que não é muito comum é cometermos loucuras tão caras como a sua».
LM é um gatinho. É o tal gatinho universitário que me ligou quando eu estava nas Caldas. Tem rosto de anjo e um comportamento meigo. Na cama, é todo delicado. É inteligentíssimo. Trabalha no duro, incontáveis horas por dia. Às vezes goza rápido, e n'outras consegue segurar o gozo por muito, muito tempo. Antes dávamos 2 fodas, sendo uma mais rápida e a segunda muito demorada. Mas depois ele começou a ser demorado também na primeira, então acabamos ficando sempre sem tempo para o segundo round. O tempo com ele passa rápido, e nem noto, porque além disso conversamos bastante, e há sempre um clima de envolvência.
Quando esteve pela primeira vez comigo, soltou que teria uma "amiga" brasileira. Uma espécie de namorada, foi o que concluí, mas não me deu mais detalhes. Numa próxima vez me contou de uma namorada que teve, portuguesa, mas bastante cachorra e sempre cheia de jogos a tentar sacar-lhe algum dinheiro.
Lembro de um gajo, na primeira boîte que trabalhei, que assim dizia falar com os amigos: «Vamos às gajas honestas!» Ele me explicava que pelo menos conosco eles sempre saberiam que teriam que pagar para ter sexo, mas que pelo menos saberiam quanto.
O LM marcou para às 23h, e por pouco não me pegava. Um outro gajo, que viria de Santarém, tinha marcado para o mesmo horário. Mas cinco minutos depois mandou uma mensagem desmarcando, devido a um imprevisto. Educado, muito educado. Tem homem que não se dá ao trabalho de desmarcar e a gente perde outros clientes por causa disso.
A mensagem era muito educada e muito bem escrita, e por isso foi bem recebida por mim. Um dia eu publico aqui algumas mensagens que recebo no telemóvel, e então poderão compreender porque essa mensagem se mostrou tão diferente:
«Boa noite. Eu liguei a pouco a marcar uma hora para às 23h. Entretanto surgiu um imprevisto e já não posso ir. Desculpe. Brevemente volto a ligar-te. Um beijo.» [22:16:07]
Dois minutos depois de receber a mensagem que o LM me ligou, marcando, e logo pude aceitar.
Eu estava com um pouco de sono, mas tentei manter-me animada. Conversamos uns dez minutos sentados na cama. Notei que tinha um olhar um pouco triste. Ele me disse que as coisas não estavam a correr tão bem, e que muitas vezes é impossível passar por elas como se não existissem. Vendo que não me daria mais detalhes, resolvi animar a conversa, ou seja, começar o sexo.
Despimo-nos, coloquei o preservativo com uma ligeira dificuldade ( tem a cabeça do pau grande, então eu empurrava o preservativo para baixo e o preservativo subia sozinho, e só quando chegou ao talo que permaneceu fixo ). Fiz um broche, estive um pouco por cima dele, enquanto acariciava seu peito cabeludo, e depois ele veio para cima de mim. Estava todo gostosinho, me dando beijinhos nos ombros e na face enquanto penetrava. Depois eu passei minhas pernas pelas suas costas e comecei a auxiliá-lo com o meu corpo. Aceleramos, e muitos minutos depois ele gozou. Foi uma foda muito confortável, muito agradável, muito deliciosa.
Depois de limpos, continuamos a conversar, um do lado do outro, na cama. Foi aí que voltamos ao assunto da sua tristeza. Começou a contar-me que algum tempo atrás tinha uma brasileira. E contou que também ajudou muito essa menina. Mas agora ela tinha o pai doente, precisando de fazer uma cirurgia com urgência, que só pode ser feita nos Estados Unidos. Porém, é uma grana que ele não tem. Sente muito mas não pode ajudá-la.
Pedi mais detalhes. Contou que ela já esteve em Portugal, mas foi para o Brasil em meados de abril. Era para voltar agora, mas com a doença do pai é possível que já não volte. E tem uma mãe interesseira, que quer obrigá-la a casar com um gajo qualquer, por interesse, para salvar a vida do pai. Ele falava com orgulho dela, mas eu não conseguia perceber nenhuma nobreza na atitude da menina. Perguntei o valor que ela lhe devia. Queixos que caiam, a soma era superior a 37000 euros, dinheiro esse que na totalidade não tinha nas suas economias, mas que fez um certo impréstimo ao Banco para completá-lo.
Perguntei onde ela trabalhava quando cá esteve. Me citou dois nomes de lojas conhecidas, onde não ganhava mais de 400€. Contou-me que ela pagava 350€ de renda. Perguntei-lhe se ela tinha algum tipo de rendimento extra. Disse-me que não. Isso pareceu-me impossível. Ninguém, em sã consciência, sabendo que só tem 400€ de renda mensais, aluga um apartamento por 350€. Nada sobra para viver. Disse-me que antes ela trabalhou "na noite", por volta de um mês - ele nem precisava de me contar isso, porque eu já desconfiava - e se ele emprestou-lhe o dinheiro foi com o propósito de ajudá-la a "largar essa vida".
Perguntei a quanto tempo a conhecia. 4 meses. E em quatro meses já havia lhe colocado 37000€ nas mãos. Ou seja, se ela tivesse intenção de pagá-lo, mesmo que entregasse todo o seu salário, levaria quase oito anos. E como gastava 350€ de renda, e mesmo que conseguisse algo mais barato, não conseguiria pagá-lo. Brinquei, calculando que ela só conseguiria pagá-lo em 32 anos. «Fique tranquilo. Quando você tiver 54 anos terá toda a dívida paga.»
Santa ingenuidade! Tomara que eu esteja errada, mas tudo me leva a crer que não. Já vi tantas burlas desse tipo por aí, que já conheço todos os subterfúgios. Ela diz que é capaz de fazer tudo para salvar a vida do pai, mesmo se casar com o tal gajo, forçada pela mãe. Isso parece tão heróico, não parece? Ele gosta dela. E acredita que ela gosta dele. Se ela gostasse dele, se casaria com outro? Ela podia vender o corpinho para juntar a grana, mas prefere o método mais fácil, que é iludir pessoas. Disse que ela só tem 21 anos, como se uma gaja de 21 anos não tivesse malícia suficiente para uma jogada esperta dessas.
Depois confessou-me que esse era o seu maior receio: o de estar a ser enganado.
Eu sou das honestas. E minhas amigas também. Só recebemos por aquilo que batalhamos com o nosso corpo e com o nosso tempo. Também recebemos dinheiro extra, como é evidente, mas nunca a pedi-lo ou a manipular alguém a fazê-lo. Principalmente os "bonzinhos", que respeitamos e queremos bem.
Porque, é claro, não vou ter pena dos "mauzinhos". Existe um tipo de homem que acha que está te comprando. Esses sim eu manipulo, se tenho oportunidade e, mesmo assim, se perceber se vale a pena gastar o meu tempo. Deixo que acredite que está me comprando, enquanto minha conta bancária se fortalece. Há aqueles que, se não gastassem comigo, gastariam com qualquer outra. Então é óbvio que eu aproveito. Mas só me aproveito desses, que são raros, mas com os outros, a maioria, sou sempre muito honesta.
São incontáveis as vezes em que algum cliente me disse que foi com alguma colega minha - algumas conhecidas e outras que nem conheço - e que elas lhe pediram algum dinheiro emprestado e sumiram no mundo. Mas alguns deles até que mereciam. Mulheres boas para eles são aquelas que chulam, que exploram, que tiram-nos até as cuecas - e não é no sentido sexual, mas no financeiro - enquanto as outras não prestam.
Foi no alterne - e não no puteiro - que aprendi todas as malandragens da noite. O alterne é uma das coisas mais hipócritas do mundo da noite, do tipo «Vou sacar-lhe o seu dinheiro, mas não sou puta». Conheço uma colega que, mal consegue alguma intimidade com o homem - intimidade essa que não inclui sexo - começa a contar-lhe estórias tristes. Sua armação convencional é a seguinte: começa a chorar, dizendo que a mãe morreu e que não tem dinheiro para comprar a passagem de avião para ir no velório no Brasil. Com isso, a mãe dela já morreu umas dez vezes. E ela nem tem mãe no Brasil, é portuguesíssima e com os pais muito vivos. E se algum homem topa sua jogada, encontrando-a na rua, ela arma novamente o teatro, começa a chorar e diz: «Você não imagina o que aconteceu! Estou tão desesperada! Meu irmão roubou-me o dinheiro que você me deu.» E pimba na gorduchinha, mais uma vez o homem fica comovido e da-lhe mais dinheiro para a suposta passagem. Então, e principalmente se for verão e o tempo for propício, ela se manda para o Algarve com o namorado comparsa e passa alguns dias por lá, a curtir à solta, ou talvez a encontrar mais uns otários para cair na sua armadilha.
Paula Lee
«Costumo dizer que somos para as pessoas um reflexo do que elas são para nós.
Alguns clientes me ligam e perguntam como vou atendê-los. A resposta é simples: eu não sei. E não tenho como saber, até o momento em que ele estiver comigo. Há todo um procedimento de descontracção e de relax, quando o cliente está predisposto para tal.
Posso dizer que sou selectiva com os meus clientes. O que selecciono não é aparência ou a posição social. O que prezo é a postura, o respeito, etc. Não é porque faço esse trabalho ou porque me pagam que sou obrigada a atender quem não quero. Quanto maior é o tempo que gastamos com as pessoas desagradáveis, menor é o que temos para as que nos agradam.
Não sou levada por conversas ou chantagens do tipo:
1- Me faça mais isso ou aquilo que te dou mais dinheiro.
2- Me trate bem que ganhas um cliente.
3- Me atenda agora porque sou um gajo bonito e você não vai se arrepender.
Minhas respostas são as seguintes:
1- Comigo o cliente não tem sempre razão. O corpo é meu e faço dele o que bem entender. Quando um cliente vem, está consciente das minhas condições. Não há dinheiro no mundo que me suborne, ou que faça que eu vá contra os meus princÃpios.
2- Não preciso que me induzam a tratá-los bem. Como digo, é um reflexo. Se o cliente for um bom homem enquanto ser humano, será tratado bem. Não será tratado como os outros, nem melhor, nem pior, independente do dinheiro que me dê. Será tratado como uma pessoa única.
3- Pouco me importa a aparência fÃsica ou a condição social. Não trabalho só para homens bonitos ou só para homens muito ricos. Trabalho para aqueles que podem recompensar o meu tempo, em troca de um momento de convÃvio, relax e prazer.
Em geral, tenho muitos e bons clientes, meiguinhos, educados, simpáticos (etc), o que faz com que o meu trabalho seja menos desconfortável. Tudo isso graças ao facto de ter aprendido a ser selectiva. Atendo, numa primeira vez, pelo menos 99% dos clientes que me procuram. Tiveram o trabalho de ler o jornal, de me ligar, de achar meu endereço, de subir e bater à porta. Mas nada me obriga a atendê-los uma segunda vez.
Talvez por causa dessa minha postura, muito rara é a ocasião de aparecer alguém que eu não queira atender. Só tenho que agradecer muito a Deus pelos clientes maravilhosos que tenho.
Com esse blog que também serve de terapia para os clientes, sento-me no divã e posso avaliar intimamente o passar do tempo e as experiências adquiridas.»