Falei que ia dar detalhes, e só agora consigo uma brecha.
Na quinta encerrei o trabalho mais cedo, com o triste pretexto de ter que arrumar a casa. Eu não tenho empregada, nem pretendo ter, porque não gosto que mexam nas minhas coisas. E também não gosto da lida doméstica. Oh God!
Antes disso me ligou o tal gajo da imobiliária de Lisboa, aquele que disse que tinha como arranjar um apartamento no Areeiro. Como ainda não descartei de todo a ideia de ir para Lisboa, marquei com ele em Sete Rios no sábado. Porém, antes que ele desligasse, pedi que ele me desse o número dele, porque poderia acontecer alguma eventualidade e eu precisar de ligar-lhe. Sua postura no telefone faz me parecer que é uma pessoa séria, mas esse detalhe sempre me deixou de pé atrás. Na primeira vez que me ligou, tinha dito que me ligaria um dia antes da minha ida a Lisboa. Confundiu, me ligando dia 15, mas mesmo assim ligou. Mas nesse dia eu pedi que ele me mandasse um e-mail com o contacto, e ele não o fez. Então - onde eu estava mesmo? - ah, sim, nessa quinta eu pedi-lhe o número. Pediu desculpas, dizendo não saber que estava a ligar anónimo, e dizendo também que era novo nessa tal imobiliária - imobiliária essa que ele também não me forneceu o nome - e que por isso não sabia o número, mas que a seguir me mandaria uma mensagem para que eu guardasse o contacto. Fim do caso: ele não mandou a mensagem.
O Dr.J. chegou às 14:30 na sexta. Deixei que ele lesse meu blog enquanto acabava de verificar minha bolsa - ele acha divertidíssimo quando começo, qual uma velha em princípio de Alzheimer, a conferir se não estou esquecendo algo em casa - e fomos rumo às Caldas da Rainha, ao som do meu cd "Queen+Paul Rogers". A seguir ouvimos um pouco de Rolling Stones. E quando já chegávamos nas Caldas ele mostrou-me uma música que estava em outro cd, mas que eu já conhecia, pois também a tenho. É um tango belíssimo.
Como eu não tinha almoçado, comprei o Gazeta das Caldas e paramos num café. Comi pela primeira vez um nortenho- o doce, porque os homens nortenhos eu já comi centenas ;) - enquanto seleccionávamos no jornal os apartamentos que estavam para alugar.
Perguntou-me se ligava eu ou ligava ele. Entreguei-lhe o meu telefone, indicando que era melhor ser ele a ligar. Podiam implicar com o meu sotaque. Além disso, ele tem toda uma desenvoltura propícia para desenrasques.
Só que não damos muita sorte. Uns quatro apartamentos já estavam alugados. Dois números que ligamos estavam errados no jornal. No fim das contas, só nos sobravam duas alternativas. Uma delas era um andar numa vivenda, sem mobília, num preço muito acessível. Outra alternativa era um andar num preço nada acessível - que logo descartei, pois nem ao menos tinha a cozinha equipada, e tinha o preço de uma renda em Lisboa. Fomos visitar o que nos restou. Não era muito longe do centro da cidade. Logo vimos um talho. «Oh, sina!» - pensei, porque actualmente já moro perto de um. Fomos visitar o andar, mas não quis ficar com ele. E não foi apenas por não ter banheira. Com um toque feminino, aquilo até que ficaria habitável. Mas eu já tinha visto as escadas, barulhentas, em madeira, que impediriam a discrição. E quem nos mostrou o apartamento foram os vizinhos, um casal de velhos. E morar do lado de reformados - apesar de serem ligeiramente simpáticos - não dá muito certo, porque estão sempre em casa a vigiar a porta alheia.
Apesar de ter avisado que estaria de folga e não ter colocado anúncio, algumas pessoas me ligaram. Eu levei o telefone porque, em último caso, podia me ligar o gajo do Areeiro. Uma delas era o Sr.M., que dizia estar perto do meu apartamento. Outro era o G., para saber se eu já tinha conseguido alguma coisa. E outro era um gatinho universitário, que esteve comigo umas duas ou três vezes. Os restantes eram desconhecidos.
Eu e o Dr.J. ainda fomos em algumas imobiliárias, mas já era tarde e já não dava para visitar nenhum apartamento. Numa encontramos um apartamento que correspondia à descrição do que eu queria, mas a senhora só poderia mostrar-mo na manhã seguinte. Então o Dr.J. combinou que à noite me traria em casa para eu buscar o que precisasse e depois me levaria para a casa dele, onde passaria a noite.
Fomos ainda buscar um amigo dele, meio cromo, mas boa gente. É o tipo de gajo que janta num lugar porque diz que é o melhor da cidade, depois vai comer a sobremesa em outro lugar porque diz ter a melhor sobremesa da cidade, e depois vai num terceiro restaurante tomar um café, onde diz ser também o melhor da cidade. O gajo tinha umas coisas para resolver, sempre às pressas, e por isso estivemos no carro a levá-lo de um lado a outro.
Fomos jantar num restaurante simples, mas muito acolhedor - apesar do pequeno detalhe de estar quase 1 grau negativo e não ter um único aquecedor ali dentro. Experimentei uma bebida nova que eu não sei o nome, mas que, segundo o dono do restaurante, é uma mistura de vinho com coca-cola e frutas. Acho que gostei muito daquilo, porque tomei dois jarros.
E talvez por causa do efeito do vinho, em certa altura confessei ao Dr.J. os meus projectos a curto prazo, mas que levam um longo prazo para estarem concluídos. Especificamente, 5 anos, a contar do fim do ano que vem. Ele ficou muito feliz em saber dos meus planos, não imaginando que fossem esses, mas considerando-os louváveis. Ele também me fez uma confissão, introduzindo que quem diz a verdade não merece castigo. Como leu um pedaço do meu blog, diz que teve um pequeno ciúme do Alemão. ;)
O "cromo simpático" chegou quando começávamos a jantar, mas apenas beliscou em um pouco de comida e foi embora, pois ainda tinha um trabalho urgente para fazer. E eu pensando comigo: «Está igual puta que não tem horário?» Antes disso elogiou-me extensamente. Primeiro disse que eu era muito bonita. Depois disse que na verdade eu era linda. A seguir corrigiu-se, dizendo que afinal eu era muito linda. Disse que o Dr.J. havia lhe mostrado fotografias minhas - sim, o Dr.J. tem fotos minhas, porque também somos amigos e já viajamos juntos - mas que eu era muito mais linda pessoalmente. Não encontrando mais elogios à minha beleza física, elogiou a minha postura clássica, discreta e elegante. Owwwwww-brigada.
Antes de sair do restaurante o dono do restaurante me ofereceu uma dose de ginginha de Óbidos. É um licor que tem gosto de xarope para tosse.
Depois do jantar viemos até a minha casa e fiquei arrumando um kit básico de coisas que eu precisava para passar a noite e o dia seguinte fora.
Voltamos para as Caldas e dormi lá na casa do Dr.J. Ele ainda leu um pouco antes de dormir. Eu levei um livro mas não quis ler, porque estava cansada por ter rodado tanto a cidade de salto alto. Não rolou sexo, obviamente, porque ele sabe separar bem as coisas, e nesse momento o seu papel era de amigo, e não de cliente.
O colchão dele é bem mais duro que o meu, e o quarto é bem mais frio. Encolhi-me toda, mas consegui dormir como uma pedra. Ele ainda não sabe disso - talvez saiba quando ler meu blog - mas certa hora da noite, não sei quando, senti sua mão alisando meu corpo umas três vezes por cima do cobertor. Mas a seguir peguei no sono de novo.
Acordei às 9h no sábado e sabia que ele já estava acordado, então perguntei-lhe as horas. Comecei a me espreguiçar de costas para ele. Ele pediu que eu me virasse, mas eu não virei, pois meu aspecto devia estar um pesadelo. Ele disse que não tinha problema, pois ele também devia estar com o cabelo em pé, mas eu não me virei. Então ele ficou me fazendo festinhas com as mãos em cima da minha cintura. Comecei a espreguiçar-me com mais força e a estalar vários ossos. Enfim levantei e fui logo para o banho. Ele colocou música na casa.
Ele entrou na casa de banho e disse que tinha ligado para a imobiliária, mas que a senhora disse que não poderíamos ver o apartamento naquele dia, porque a dona ia colocar móveis novos. Pouco me interessa o aspecto dos móveis, eu só queria mesmo era ver o aspecto do prédio, a localização, a vizinhança, pois assim eu já dava uma resposta definitiva. Então ficamos de passar por lá nessa terça-feira.
Fomos tomar o pequeno almoço, depois ele foi colocar gasóleo no carro e a seguir fomos comprar uns cigarros diferentes. Chama-se VegaFina e tem aroma de baunilha.
Fomos em rumo à Lisboa, ouvindo Elton John, a meu pedido.
Passamos no Vasco da Gama e depois fomos procurar um restaurante para almoçar. Passamos perto de um restaurante envidraçado e eu notei que um gajo olhava para mim, mas não deixei que ele visse que eu notava. Isso é engraçado contado pelo Dr.J.: «Estávamos a passar e vi um gajo a olhar para ti. Depois ele levantou os olhos e olhou para mim!» A seguir o gajo sai do restaurante e veio cumprimentar o Dr.J. Eram conhecidos!!! O gajo era muito bonito e charmoso. Devia estar quase na casa dos quarenta, da minha altura, sorriso bonito, apesar da barba. Cumprimentei-o com dois beijos na face. Ele é cardiologista. Oh, como eu queria contar-lhe o quanto meu coraçãozinho anda frágil... ;) Mas não podia fazê-lo, porque, apesar de estar com o Dr.J. como amiga, isso seria piranhagem.
Fomos almoçar num outro restaurante, porque aquele estava cheio. Comemos um "Bife República", que estava muito delicioso, com um suculento molho ao alho, que nem vampiro iria se recusar. Dr.J. tomou uma cerveja e eu tomei uma coca-cola, porque a viagem tinha me enjoado um pouco, mas logo depois eu melhorei. Enquanto almoçávamos, observávamos dois cãoes, amarrados numa árvore, a trepar. A seguir fumamos um cigarrinho de baunilha. Recebi cada olhar no restaurante que foi uma loucura, mas fingi que não notava.
Ainda tive uma ligação anónima por volta das 15:50, quando ainda estava no restaurante, e pensei que podia ser o gajo do Areeiro. Eu não fui para Sete Rios como o combinado, porque o conbinado também era que ele me mandaria uma mensagem antes, mas não mandou. Não conseguia perceber bem o telefonema, porque a pessoa estava sem rede, então desliguei.
Passeamos um pouquinho mais no shopping, mas eu já estava exausta de tanto andar. Estivemos um bom tempo a observar as montras das lojas de lingerie e a entrar em livrarias ( duas das minhas grandes perdições ). Às 17:30 fomos para o Pavilhão Atlântico, pois tinha um espectáculo para assistir às 18h. Eu não poderia deixar de levar o meu aplauso para a Adriana Calcanhotto. O show foi muito bom, apesar de, como já previa, estar lotado de crianças. A voz da Adriana é linda. Mas tenho que dizer que uma das partes mais divertidas foi quando "os pobres" começaram a saltar as grades de proteção dos seus lugares e começaram a invadir a ala vip. Mal fizeram isso, acabava o show e a Adriana foi embora.
De regresso à casa, procuramos um restaurante para jantar. O primeiro estava muito cheio. Essa época, por causa dos jantares das empresas, isso torna-se uma grande perda de tempo. Mas por pouco conseguimos lugar num outro restaurante, onde ficamos por uma pizza pequena e guaraná. Guaraná eu, cerveja sem álcool ele.
Como ele ainda tinha que fazer coisas na cidade, dormiu aqui em casa. Antes disso, assistimos um episódio de "Os normais", e ele chegou a dobrar-se de tanto rir.
Ouvi-o sair pela manhã, mas o meu sono pesado não me deu forças para dizer-lhe bom dia.
Paula Lee
«Costumo dizer que somos para as pessoas um reflexo do que elas são para nós.
Alguns clientes me ligam e perguntam como vou atendê-los. A resposta é simples: eu não sei. E não tenho como saber, até o momento em que ele estiver comigo. Há todo um procedimento de descontracção e de relax, quando o cliente está predisposto para tal.
Posso dizer que sou selectiva com os meus clientes. O que selecciono não é aparência ou a posição social. O que prezo é a postura, o respeito, etc. Não é porque faço esse trabalho ou porque me pagam que sou obrigada a atender quem não quero. Quanto maior é o tempo que gastamos com as pessoas desagradáveis, menor é o que temos para as que nos agradam.
Não sou levada por conversas ou chantagens do tipo:
1- Me faça mais isso ou aquilo que te dou mais dinheiro.
2- Me trate bem que ganhas um cliente.
3- Me atenda agora porque sou um gajo bonito e você não vai se arrepender.
Minhas respostas são as seguintes:
1- Comigo o cliente não tem sempre razão. O corpo é meu e faço dele o que bem entender. Quando um cliente vem, está consciente das minhas condições. Não há dinheiro no mundo que me suborne, ou que faça que eu vá contra os meus princÃpios.
2- Não preciso que me induzam a tratá-los bem. Como digo, é um reflexo. Se o cliente for um bom homem enquanto ser humano, será tratado bem. Não será tratado como os outros, nem melhor, nem pior, independente do dinheiro que me dê. Será tratado como uma pessoa única.
3- Pouco me importa a aparência fÃsica ou a condição social. Não trabalho só para homens bonitos ou só para homens muito ricos. Trabalho para aqueles que podem recompensar o meu tempo, em troca de um momento de convÃvio, relax e prazer.
Em geral, tenho muitos e bons clientes, meiguinhos, educados, simpáticos (etc), o que faz com que o meu trabalho seja menos desconfortável. Tudo isso graças ao facto de ter aprendido a ser selectiva. Atendo, numa primeira vez, pelo menos 99% dos clientes que me procuram. Tiveram o trabalho de ler o jornal, de me ligar, de achar meu endereço, de subir e bater à porta. Mas nada me obriga a atendê-los uma segunda vez.
Talvez por causa dessa minha postura, muito rara é a ocasião de aparecer alguém que eu não queira atender. Só tenho que agradecer muito a Deus pelos clientes maravilhosos que tenho.
Com esse blog que também serve de terapia para os clientes, sento-me no divã e posso avaliar intimamente o passar do tempo e as experiências adquiridas.»