Apesar de já ter folgado no último sábado, estou desejosa por essa próxima folga. Só falta o Dr.J. chegar de viagem para confirmar comigo.
Tem clientes que são amigos incondicionais, que me respeitam e me admiram.( O que é recíproco também da minha parte ). O Dr.J. é um deles.
Ele me liga e pergunta:
- Você sente saudade de mim?
- Não, eu não tenho saudade de ninguém. - eu dou a resposta pronta, seca.
É mentira. Eu tenho saudade de todas as pessoas queridas e amáveis que tanto me fazem bem. Mas não digo isso pra ele. Não digo porque muitas pessoas estão demasiado carentes, só esperando por uma manifestação de carinho que as conforte. E como estão carentes, podem se apaixonar com facilidade, confundindo tudo. Daí eu perco o amigo e perco o cliente.
O próprio Dr.J. já me disse inúmeras vezes o quão ideal eu sou como mulher. Repete o quanto eu sou bonita, simpática, inteligente, divertida e determinada. Valoriza a minha falta de vulgaridade, a minha discrição.
É claro que tudo também depende do objectivo com o qual o homem procura uma garota de programa. Se ele procura só putaria, só putaria ele vai ter e, portanto, sempre estará longe de qualquer tipo de sentimentalidade. Mas a minha clientela principal não procura só por sexo, apesar de muitos estarem convencidos de que é só isso que vêm buscar. Sexo por sexo, teriam com qualquer pessoa. Teriam até com a fechadura da porta, e o prazer podia até ser o mesmo. A maior parte dos meus clientes buscam por convívio e carinho, por serem ouvidos, por serem tocados, por um momento íntimo só deles, e o sexo é apenas um complemento.
A minha amiga M., por exemplo, detesta quando o homem começa a conversar muito. Diz que não tem muito saco para isso, preferindo que comecem logo aquilo que têm que fazer. Eu, ao contrário, até estimulo que falem mais. Adoro ouvir suas histórias - ou estórias - sendo elas verdadeiras ou não. Gosto muito desse "à vontade", dessa descontração. Muita gente acredita que o sexo é bom quando se consegue fazer o maior número de posições possíveis. Outros acreditam que o sexo é bom quando se consegue aguentar muito tempo. Eu acredito que o sexo é bom quando há envolvência, e é isso que é gerado com a conversa, o convívio, o carinho, o respeito mútuo.
São incontáveis os casos de homens que se apaixonaram por mim, e com muita frequência sou pedida em casamento. «E por que você não aceita se casar e sai dessa vida?» - muitos me perguntam. Porque, apesar de estar "nessa vida", ainda sou uma romântica, que ainda acredita no amor. ( Não devia, mas acredito ). Me casar com um homem sem amor, apenas porque ele me fará certos favores, será o mesmo que me prostituir. E não quero ser prostituta de um homem só. Como eu estava conversando com a minha amiga D. ao telefone, hoje, na hora do almoço, fazer programa é razoavelmente prático, mesmo nas hipóteses menos agradáveis. O cliente paga o programa, mas a gente sabe que tem certo momento em que o tempo dele vai acabar e que ele vai embora. Depois você atende outro, que também vai embora. E não preciso de mentir que gosto dele, não preciso de vê-lo iludido na esperança de que um dia eu me apaixone, não preciso de fazer promessas infundadas. O homem vem, paga, convive, goza, e faz dessas quatro paredes o seu refúgio para pequenos momentos de relax, mas depois ele volta para a sua vida normal, como eu volto para a minha. Outra coisa é conviver com uma pessoa, dia após dia, me sentir uma "puta 24 horas", sem ser dona do meu corpo e da minha alma.
Nesse momento eu prefiro ter amigos e clientes do que ter um namorado. Por isso, em alguns casos, preciso de incorporar uma postura mais dura e menos sentimental, para o próprio bem deles. Não quero ser a culpada por mais uma desilusão amorosa. Já bastam as decepções amorosas que muitos já passaram. Alguns me procuram para, em alguns momentos, esquecerem dessas decepções, e não para revivê-las.
Paula Lee
«Costumo dizer que somos para as pessoas um reflexo do que elas são para nós.
Alguns clientes me ligam e perguntam como vou atendê-los. A resposta é simples: eu não sei. E não tenho como saber, até o momento em que ele estiver comigo. Há todo um procedimento de descontracção e de relax, quando o cliente está predisposto para tal.
Posso dizer que sou selectiva com os meus clientes. O que selecciono não é aparência ou a posição social. O que prezo é a postura, o respeito, etc. Não é porque faço esse trabalho ou porque me pagam que sou obrigada a atender quem não quero. Quanto maior é o tempo que gastamos com as pessoas desagradáveis, menor é o que temos para as que nos agradam.
Não sou levada por conversas ou chantagens do tipo:
1- Me faça mais isso ou aquilo que te dou mais dinheiro.
2- Me trate bem que ganhas um cliente.
3- Me atenda agora porque sou um gajo bonito e você não vai se arrepender.
Minhas respostas são as seguintes:
1- Comigo o cliente não tem sempre razão. O corpo é meu e faço dele o que bem entender. Quando um cliente vem, está consciente das minhas condições. Não há dinheiro no mundo que me suborne, ou que faça que eu vá contra os meus princÃpios.
2- Não preciso que me induzam a tratá-los bem. Como digo, é um reflexo. Se o cliente for um bom homem enquanto ser humano, será tratado bem. Não será tratado como os outros, nem melhor, nem pior, independente do dinheiro que me dê. Será tratado como uma pessoa única.
3- Pouco me importa a aparência fÃsica ou a condição social. Não trabalho só para homens bonitos ou só para homens muito ricos. Trabalho para aqueles que podem recompensar o meu tempo, em troca de um momento de convÃvio, relax e prazer.
Em geral, tenho muitos e bons clientes, meiguinhos, educados, simpáticos (etc), o que faz com que o meu trabalho seja menos desconfortável. Tudo isso graças ao facto de ter aprendido a ser selectiva. Atendo, numa primeira vez, pelo menos 99% dos clientes que me procuram. Tiveram o trabalho de ler o jornal, de me ligar, de achar meu endereço, de subir e bater à porta. Mas nada me obriga a atendê-los uma segunda vez.
Talvez por causa dessa minha postura, muito rara é a ocasião de aparecer alguém que eu não queira atender. Só tenho que agradecer muito a Deus pelos clientes maravilhosos que tenho.
Com esse blog que também serve de terapia para os clientes, sento-me no divã e posso avaliar intimamente o passar do tempo e as experiências adquiridas.»