Prostituta, garota de programa, acompanhante, cortesã, amante profissional, rameira, mulher da noite, meretriz, quenga, menina de convívio. São muitos nomes para a mesma função: terapeuta sexual. Porque, na realidade, uma mulher que trabalha com sexo não trabalha apenas com sexo.



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Visualizei no ecrã do meu telemóvel particular que tinha mais 6 chamadas não atendidas. E todas elas eram do meu senhorio. Então liguei-lhe a seguir. Ele disse que tinha uma pessoa interessada no apartamento, mas que primeiro precisava de saber se eu ia ou ficava. E como não sou daquele tipo de pessoa que não monta nem sai de cima, tive que dar-lhe logo uma resposta. Como não tinha nada acertado, nem tempo suficiente para tal, repeti a frase de D. Pedro, num novo cenário: «Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, diga ao povo que fico!». Sua voz logo mostrou felicidade do outro lado da linha.

Era isso ou virar uma sem-tecto. E já fui sem-tecto aqui, o que não é nada agradável. Quando cheguei, trabalhava para boîtes, e também morava nessas mesmas boîtes, ou seja, não tinha qualquer privacidade ou liberdade. E em determinada época, em que viajava com uma mala nas costas - mala esta com roupa de noite, botas de cano alto, discman, maquiagem, livros e preservativos - cheguei a morar em hotel durante duas semanas.

Mas hoje numa mala não cabem nem mesmo os meus livros, já que leio mais de 30 por ano.

Quando procurei apartamentos, não encontrava nada muito agradável, apesar de ter baixado as minhas exigências. Apartamentos bolorentos caindo aos pedaços, ou apartamentos habitáveis, mas que não serviam para trabalhar, esse é o resumo da minha procura.

Fiquei um pouco triste quando hoje cedo fiquei sabendo que o apartamento que correspondia ao que eu pretendia não poderia ser alugado esse fim do mês. ( Verdade seja dita que não foi uma tristeza tão forte e profunda, pois nem tudo é capaz de me abalar ). Eu ainda poderia culpar o mundo, ou viver com complexos de perseguição pelo trabalho faço, mas não tinha nada a ver com isso, porque quem deu sempre a cara foi o Dr.J., que tem um aspecto e postura respeitáveis. Não era para ser.

Não pude trabalhar hoje à tarde, porque o meu senhorio ficou de aparecer aqui. Paguei a renda desse mês e também paguei a do mês seguinte, com o pretexto de que iria viajar, quando na verdade eu estava era envergonhadíssima por não ter pago esse mês por causa do calção, para, no fim da história, acabar não me mudando. Por mais rico que ele seja, é sempre bem recebida uma grana adiantada em época natalina. Quem me dera se meus clientes me pagassem uma foda adiantada para o mês seguinte ;). Uma ideia genial era eu lançar um vale-foda, uma espécie de cartão com fodas pré-pagas, podendo ser "consumidas" com certo prazo de validade. ( Agora eu viajei nas minhas alucinações ).

Conheço gente que não está nem aí para as dívidas. Vivo recebendo cartas de cobranças que são destinadas aos inquilinos anteriores desse apartamento. Mas eu não sou assim, e ficaria para morrer se não fosse capaz de honrar com os meus compromissos.

Acabei de atender um gajo agora, meu primeiro cliente do dia, mas depois eu conto sobre ele. Não foi uma foda ruim, nem é um gajo ruim, mas sabe quando o gajo só vem com o propósito de esvaziar os tomates? Foi isso.

Voltando ao assunto da não-mudança, depois eu percebi que afinal não seria tão ruim permanecer na mesma. Continuarei com os mesmos clientes, e poderei realizar os mesmos projectos por aqui. Sem contar que poderei continuar os meus estudos, tudo na mesma.

Para aqueles que ansiavam tanto como eu pela minha mudança, enviando e-mails a saber quando me mudaria, não fiquem tristes. É só passar a balbúrdia dessa época de datas festivas que vou programar alguns dias para estar em outras cidades. Mas, como é óbvio, em outras cidades só atenderei em hotéis, motéis e residências, e, como sabem, preço de deslocação é mais alto. Mas avisarei com antecedência quando programar as datas. Inicialmente, minhas "cidades-alvo" serão Lisboa, Porto, Coimbra e Faro.

Paula Lee


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  • I'm Quatro Paredes
  • From Portugal
  • «Paula Lee, 24 an...Oh, não é necessário repetir meus dados, disponíveis no meu site.Escrevo um diário desde que comecei a prostituir-me, mas nunca pensei que publicaria um blog. Talvez porque seja mais simples escrever um livro, com histórias já acabadas, do que expor, em tempo real, o que vai surgindo, sem tempo para reflexões mais prolongadas.Gosto de usar a expressão "terapeuta sexual" porque atender um cliente envolve muito mais do que uma simples equação geométrica para saber o quanto devo abrir as pernas.»
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    «Costumo dizer que somos para as pessoas um reflexo do que elas são para nós. Alguns clientes me ligam e perguntam como vou atendê-los. A resposta é simples: eu não sei. E não tenho como saber, até o momento em que ele estiver comigo. Há todo um procedimento de descontracção e de relax, quando o cliente está predisposto para tal.

    Posso dizer que sou selectiva com os meus clientes. O que selecciono não é aparência ou a posição social. O que prezo é a postura, o respeito, etc. Não é porque faço esse trabalho ou porque me pagam que sou obrigada a atender quem não quero. Quanto maior é o tempo que gastamos com as pessoas desagradáveis, menor é o que temos para as que nos agradam.

    Não sou levada por conversas ou chantagens do tipo:

    1- Me faça mais isso ou aquilo que te dou mais dinheiro.
    2- Me trate bem que ganhas um cliente.
    3- Me atenda agora porque sou um gajo bonito e você não vai se arrepender.

    Minhas respostas são as seguintes:

    1- Comigo o cliente não tem sempre razão. O corpo é meu e faço dele o que bem entender. Quando um cliente vem, está consciente das minhas condições. Não há dinheiro no mundo que me suborne, ou que faça que eu vá contra os meus princípios.
    2- Não preciso que me induzam a tratá-los bem. Como digo, é um reflexo. Se o cliente for um bom homem enquanto ser humano, será tratado bem. Não será tratado como os outros, nem melhor, nem pior, independente do dinheiro que me dê. Será tratado como uma pessoa única.
    3- Pouco me importa a aparência física ou a condição social. Não trabalho só para homens bonitos ou só para homens muito ricos. Trabalho para aqueles que podem recompensar o meu tempo, em troca de um momento de convívio, relax e prazer.

    Em geral, tenho muitos e bons clientes, meiguinhos, educados, simpáticos (etc), o que faz com que o meu trabalho seja menos desconfortável. Tudo isso graças ao facto de ter aprendido a ser selectiva. Atendo, numa primeira vez, pelo menos 99% dos clientes que me procuram. Tiveram o trabalho de ler o jornal, de me ligar, de achar meu endereço, de subir e bater à porta. Mas nada me obriga a atendê-los uma segunda vez.

    Talvez por causa dessa minha postura, muito rara é a ocasião de aparecer alguém que eu não queira atender. Só tenho que agradecer muito a Deus pelos clientes maravilhosos que tenho.

    Com esse blog que também serve de terapia para os clientes, sento-me no divã e posso avaliar intimamente o passar do tempo e as experiências adquiridas.»

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