Prostituta, garota de programa, acompanhante, cortesã, amante profissional, rameira, mulher da noite, meretriz, quenga, menina de convívio. São muitos nomes para a mesma função: terapeuta sexual. Porque, na realidade, uma mulher que trabalha com sexo não trabalha apenas com sexo.



=> Violência contra as garotas de programa


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São raras excepções, graças a Deus. Tenho a sorte de ter clientes meigos, amigáveis, simpáticos, ternos, inteligentes, educados e carinhosos.

Mas como nem tudo são flores, existem essas abominações da natureza, esses homens brutos, horrendos, covardes e estúpidos, que maltratam as garotas de programa. E não tratam-nas assim apenas por se prostituirem, mas porque não sabem respeitar qualquer tipo de mulher, qualquer tipo de pessoa.

Essa semana li três notícias sobre o assunto. Li uma sobre um comerciante de 29 anos que violentou uma prostituta na frente da esposa no Rio Grande do Sul. A sorte foi que ela conseguiu fugir quando ele pegou no sono. Já a outra notícia que eu li tem como cenário o meu lindo e louco Rio de Janeiro: um americano agrediu com socos e pontapés uma garota de programa de 24 anos em Copacabana porque, pelo que consta, achou o programa caro e não quis pagar. Ainda tentou jogá-la do 13º andar e ameaçou matá-la. A sorte, nesse caso, foi que o porteiro ouviu os gritos e chamou a polícia. O último acontecimento relacionado, li hoje no Jornal de Notícias. É sobre o caso que está em tribunal sobre a garota de programa de 35 anos que foi assassinada no ano passado em Aveiro, com um murro, e depois asfixiada com um cinto. Essa já não teve sorte nenhuma.

A pior lembrança que tenho na "noite" foi na primeira boîte que trabalhei, no Norte. Era completamente inexperiente e ingênua. Não fazia quinze dias que estava lá. Subi com um gajo que me chamou. Não conversamos antes. Ele estava no balcão a tomar um copo, pediu para a dona da boîte me chamar, deixou pago o valor de meia hora no caixa e eu fui. E fui com aquele meu ar, espontaneamente meigo e verdadeiramente tímido e inocente. Ele era alto, moreno, magro, cabelo castanho acinzentado, uns 40 e poucos anos. Nunca mais vou me esquecer daqueles olhos, cheios de maldade, e daquela boca que pronunciava frases tão arrogantes e ofensivas. Quando despiu-se, notei que tinha uma pila de cavalo. Eu juro que até hoje nunca vi algo tão grande e grosso quanto aquilo!!!! Fiquei assustada, aterrorizada. «Eu sou árabe, caralho, o que é que você esperava?» - ele me perguntou, já a gritar comigo. Já nesse momento minha intuição já me dizia que não iria conseguir sair incólume dali. Eu não fazia ideia da nacionalidade dele, como também não fazia ideia que era humanamente possível alguém ter uma pila tão monstruosa como aquela.

Apesar de amedrontada com a ideia de ter aquilo dentro de mim, havia ainda um resquício da minha meiguice original que me permitia negociar. Implorei para que não fizéssemos nada. Eu tinha uma sorte danada com os clientes, e desejei que mais uma vez ela estivesse a meu favor. Alguns me pagavam para ir para o quarto apenas para conversar. ( Era mais vantajoso que me pagar um copo, pois só teriam a minha companhia por 10 minutos, enquanto que, no quarto, ficariam meia hora tranquilos comigo ). Mas o tal árabe não se mostrou disposto, muito menos sensibilizado com o meu pedido. Então resolvi negociar: «Eu sou nova aqui e não estou habituada a isso. Ninguém me avisou de nada lá embaixo em relação ao tamanho do seu pau. Acredito que você, sendo cliente assíduo da casa, já deve ter vindo com outras meninas, que talvez já estejam mais habituadas. Fazemos o seguinte: descemos, eu peço para a dona da boîte para te devolver o seu dinheiro e você escolhe outra.» Ele não gostou da proposta, e ficava cada vez mais nervoso. No cúmulo do meu desespero, ofereci-lhe o dobro do dinheiro, para que ele não me comesse. Sem ter intenção para tal, isso ofendeu-o, o que fez sentir-se no direito de também me ofender. Deixou bem claro que eu era o seu brinquedo, uma boneca, um lixo qualquer, do qual abusaria sem piedade. Nenhuma espécie de comiseração apossou-se ou manifestou-se naquele espírito amaldiçoado.

Ainda olhei para a porta e pensei em fugir, mas não chegaria muito longe com aqueles saltos agulha, e estava num terceiro andar, sem elevador. A boîte ficava numa espécie de uma cave, do lado direito desse prédio. Eu era um objecto que ele tinha comprado e o mais sensato que podia fazer naquele momento era entregar-me. Caso revidasse, calculava que ele podia se tornar muito violento. As suas palavras e seus gestos já denunciavam esse comportamento agressivo. Eu não sabia lidar com a violência nessa altura. E o que mais tinha medo não era da violência corporal do outro. O meu maior medo era da violência que existe dentro de mim. Porque se um homem me agride fisicamente, tenho consciência de que ele, já pela sua natureza e pela sua constituição física, é mais forte do que eu. Mas ele também não sairia completamente ileso. E o meu medo era de não saber quando parar e de, quando voltar a mim, ser demasiado tarde para voltar atrás.

Com os olhos encharcados em lágrimas e com a maquiagem borrada, cedi. Comecei a colocar-lhe o preservativo, que não entrava. Consegui colocar, depois de muitas tentativas custosas. Se eu teria que ser possuída por aquele monstro, que pelo menos tivesse a certeza que o preservativo lá estava. Agora era invadida por dois medos: o medo da penetração e o medo de que o preservativo rompesse. Ele tinha o corpo do pénis mais grosso que a cabeça. E o preservativo não subia, de jeito nenhum. Ficava todo ali na cabeça, apertado, quase a explodir.

Lancei-lhe um olhar de ódio e abri as pernas. Tinha decidido que não ia gritar, pois não dar-lhe-ia esse prazer. Mas a dor foi maior que a minha determinação, maior que a minha força, maior que o meu medo. Só não era maior que o meu ódio. Não aguentei e gritei, gritei muito, concentrando o meu pensamento em praguejá-lo com toda a minha fé. Gritei mais alto que algum dia gritei na minha vida. Gritava e chorava, como uma criança que pede colo.

Ele nem ao menos tentou meter com jeitinho. Foi com toda a força que conseguiu. Mesmo com toda força, seu pau não entrou. Então continuou a dar cutucadas fortes com o pau, como se estivesse a dar um soco na entrada da minha vagina. Quando entrou, a sensação era de que a minha pele estava a rasgar-se como papel. Gritei, gritei, gritei. O som da música da boîte até então ocultava meus gritos. Enfim uma menina bateu na porta e perguntou se estava tudo bem. Ainda chorando, informei que era tarde demais.

Nem sei como minha cona voltou ao normal depois disso.

E se tudo tem um lado bom na vida, no meu caso, foi ter aprendido a me defender. Nunca mais algo parecido me aconteceu. Ou, sendo mais concisa, nunca mais deixei que algo parecido me acontecesse. Quanto mais fraca, mais forte.

Paula Lee


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  • I'm Quatro Paredes
  • From Portugal
  • «Paula Lee, 24 an...Oh, não é necessário repetir meus dados, disponíveis no meu site.Escrevo um diário desde que comecei a prostituir-me, mas nunca pensei que publicaria um blog. Talvez porque seja mais simples escrever um livro, com histórias já acabadas, do que expor, em tempo real, o que vai surgindo, sem tempo para reflexões mais prolongadas.Gosto de usar a expressão "terapeuta sexual" porque atender um cliente envolve muito mais do que uma simples equação geométrica para saber o quanto devo abrir as pernas.»
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No divã:

    «Costumo dizer que somos para as pessoas um reflexo do que elas são para nós. Alguns clientes me ligam e perguntam como vou atendê-los. A resposta é simples: eu não sei. E não tenho como saber, até o momento em que ele estiver comigo. Há todo um procedimento de descontracção e de relax, quando o cliente está predisposto para tal.

    Posso dizer que sou selectiva com os meus clientes. O que selecciono não é aparência ou a posição social. O que prezo é a postura, o respeito, etc. Não é porque faço esse trabalho ou porque me pagam que sou obrigada a atender quem não quero. Quanto maior é o tempo que gastamos com as pessoas desagradáveis, menor é o que temos para as que nos agradam.

    Não sou levada por conversas ou chantagens do tipo:

    1- Me faça mais isso ou aquilo que te dou mais dinheiro.
    2- Me trate bem que ganhas um cliente.
    3- Me atenda agora porque sou um gajo bonito e você não vai se arrepender.

    Minhas respostas são as seguintes:

    1- Comigo o cliente não tem sempre razão. O corpo é meu e faço dele o que bem entender. Quando um cliente vem, está consciente das minhas condições. Não há dinheiro no mundo que me suborne, ou que faça que eu vá contra os meus princípios.
    2- Não preciso que me induzam a tratá-los bem. Como digo, é um reflexo. Se o cliente for um bom homem enquanto ser humano, será tratado bem. Não será tratado como os outros, nem melhor, nem pior, independente do dinheiro que me dê. Será tratado como uma pessoa única.
    3- Pouco me importa a aparência física ou a condição social. Não trabalho só para homens bonitos ou só para homens muito ricos. Trabalho para aqueles que podem recompensar o meu tempo, em troca de um momento de convívio, relax e prazer.

    Em geral, tenho muitos e bons clientes, meiguinhos, educados, simpáticos (etc), o que faz com que o meu trabalho seja menos desconfortável. Tudo isso graças ao facto de ter aprendido a ser selectiva. Atendo, numa primeira vez, pelo menos 99% dos clientes que me procuram. Tiveram o trabalho de ler o jornal, de me ligar, de achar meu endereço, de subir e bater à porta. Mas nada me obriga a atendê-los uma segunda vez.

    Talvez por causa dessa minha postura, muito rara é a ocasião de aparecer alguém que eu não queira atender. Só tenho que agradecer muito a Deus pelos clientes maravilhosos que tenho.

    Com esse blog que também serve de terapia para os clientes, sento-me no divã e posso avaliar intimamente o passar do tempo e as experiências adquiridas.»

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