Prostituta, garota de programa, acompanhante, cortesã, amante profissional, rameira, mulher da noite, meretriz, quenga, menina de convívio. São muitos nomes para a mesma função: terapeuta sexual. Porque, na realidade, uma mulher que trabalha com sexo não trabalha apenas com sexo.



=> 11 minutos


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Possivelmente fui uma das primeiras pessoas a comprar o livro "Onze Minutos" do Paulo Coelho quando chegou em Portugal. Eu já sabia do lançamento. No dia que estive na livraria à procura, o livro ainda estava encaixotado.

Saber que um escritor brasileiro de renome internacional como Paulo Coelho iria falar sobre a prostituição me deixou um tanto intrigada, curiosa e até mesmo preocupada.

Desde que comecei a prostituir-me que escrevo um diário - que não é sempre diário, por vezes passando a ser semanal ou mensal, de acordo com a minha disponibilidade - sobre as peculiaridades do meu trabalho. Até hoje não adquiri a proeza nem a primazia de conseguir foder e escrever ao mesmo tempo, assim como também confesso que ainda não tive a audácia de tentar. Decidi escrever um blog apenas para adquirir disciplina na escrita, pois assim forço-me a escrever com mais frequência. Ao escrever minhas páginas no word, descobri que, se acabo de fazer um programa e vou logo contar sobre ele, adquiro uma maior riqueza de detalhes do que se deixasse para escrever sobre o assunto na semana seguinte. Quando somos pessoas românticas e estamos fora desse submundo em que vivo, fazemos amor e ficamos com todas as lembranças vivas durante um bom tempo em nossa memória. Continuamos com a mesma excitação de quando ele nos deu o primeiro beijo, conseguimos sentir até a intensidade do seu toque, nos lembramos do sabor da sua boca, da temperatura da sua saliva, e por vezes, durante dias, ainda conseguimos sentir o seu cheiro impregnado no nosso corpo ou no nosso travesseiro. Trabalhando com sexo, isso raramente acontece. Acabo de atender um cliente, atendo um próximo, mais e mais outros, e no dia seguinte quase já não consigo me lembrar de nada. Às vezes um cliente aparece e diz: "Eu já estive contigo." Fico quieta por uns segundos até perguntar: "Ah, é? E como foi?". "Foi muito bom" - é o que costumam me dizer, quando na verdade eu esperava que me dissessem qual era o tamanho dos seus pénis, se demoraram muito a gozar, se tinham alguma fantasia excêntrica, etc.

Por isso que me parecia inimaginável uma pessoa escrever sobre a experiência de uma garota de programa. Principalmente, sem querer ser preconceituosa, se esse alguém é um homem. Como é possível um escritor dar realidade a uma experiência vivida e sentida por outra pessoa? Como vou descrever a minha sensação ao ter que amputar uma perna se isso nunca me aconteceu?

Gostei do livro, apesar de achá-lo um tanto quanto infantil. E também não gostei do fim, porque, na maior parte dos casos, não corresponde à realidade.

- Você é fã do Paulo Coelho? - é o que deduzem vários clientes quando encontram um livro ou outro dele entre os muitos que tenho na minha "biblioteca pessoal".

Antes que eu possa dizer que no fundo não sou, muitos clientes contam algo muito curioso: que quando foram em outras garotas de programa, também encontraram livros do Paulo Coelho, e que elas geralmente falam muito bem dele.

Um cliente meu defendeu o Paulo Coelho como "o melhor escritor brasileiro". Falava com uma heróica convicção, como se estivesse a defender a própria mãe. «E quais livros dele você leu?» - eu perguntei. «Nenhum.» Como é possível classificar um autor sem nunca ter lido nada sobre ele? Depois que eu lhe forneci algumas informações sobre o autor, surpreendi-me com sua cara espantada e pálida a perguntar: «Então quer dizer que ele ainda é vivo? Oh, não me diga!»

Conheço também um outro grupo que classifica o Paulo Coelho como o melhor escritor dos últimos tempos: o grupo dos que só lêem Paulo Coelho. Como fazer tal apreciação sem ter lido outros para fazer comparações?

Eu admiro o Paulo Coelho. Admiro principalmente a sua capacidade de atingir um público tão grande. Já li o "O Diário de um Mago", "Brida", "As Valkírias", "Na Margem do Rio Piedra eu sentei e chorei", "Verónika decide morrer", "Manual do Guerreiro da Luz" e... ah, claro, "O Alquimista". Eu ainda tinha "O Alquimista" na minha estante. Eu tinha um cliente meio depressivo, meio sem rumo. Então emprestei-lhe esse livro. Aconteceu o que poderia acontecer caso eu tivesse emprestado um livro para qualquer outra pessoa: o cliente sumiu, e nunca mais me entregou o livro. ( Quem mandou eu querer dar uma de boazinha? ) Na última vez que ele veio visitar-me, pensei que era para fazer um programa, mas, quando estava sentado na minha poltrona, mostrou-me uma câmera digital. Disse que me vendia por 500€. «O quê? Em vez de você vir fazer um programa comigo, você veio gastar o meu tempo tentando me vender coisas?» Expliquei que, quando quisesse fazer isso, que me avisasse pelo telefone, pois assim eu saberia se teria disponibilidade para atendê-lo ou não. Perguntei do meu livro. Ele disse que estava em casa e que mo traria, o que eu sabia que não ia acontecer. Ele estava sem dinheiro nenhum, e possivelmente até já teria vendido o meu livro. Acho que ele estava tão mal financeiramente - eu não sou a culpada, ele só fez um programa comigo! - que seria capaz até de vender a própria mãe. Tem problema não. Joguei uma praga das boas nele, que deve estar fodido até hoje. Não gosto de usar essa expressão, mas sabendo da força que tem a utilizo: Praga de puta pega!

Apesar de ter lido tantos livros do Paulo Coelho, não sou fã dele. Porque acho que ser fã é algo muito sério, que condiz um amor muito incondicional.

Na minha concepção, ser fã de alguém requer que:
- Você tenha pôsters do seu ídolo espalhados por toda a casa e uma foto dele dentro da agenda;
- Você compre todos os seus trabalhos e coleccione tudo o que sai sobre ele no imprensa escrita, televisionada ou virtual;
- Mande-lhe e-mails semanalmente e cartas longas, com "amo-te" escrito um milhão de vezes, à mão;
- Ser capaz de depor a favor dele em Tribunal, mesmo que precise de falar alguma mentirinha... ( Ô, seu Juíz, na hora do crime, e eu lembro exactamente porque olhei no relógio, ele estava comigo sim, eu juro... eu estava a lhe fazer um broche nesse exacto momento )
- Ser capaz de doar-lhe um dos seus rins.

Definitivamente, não sou fã dele. Não sou fã de ninguém. ( Hummm... Talvez apenas do Chico Buarque ).

Depois comprei novamente o "11 minutos" e ofereci de presente para uma amiga ( que afinal nunca o leu, pois esqueceu-o em casa na última vez que esteve no Brasil ) e também emprestei-o para duas pessoas. Mas hoje já não empresto livros para ninguém.

O que me intrigou inicialmente foi o título. 11 minutos é relacionado com o tempo que o cliente costuma gastar para chegar à ejaculação. Podia ser 9 minutos, 10 minutos e 38 segundos, 12 ou 15 minutos, mas preferiram o 11. E por que o 11? Óbvio, por causa da força que esse número tem.

Feche os olhos e conte até três que agora eu vou pegar a minha capa e me transformarei na menina dos exemplos.

Sabe como funciona a numerologia árabe? Uma das partes da numerologia árabe estuda o "Caminho na vida". Funciona de forma muito simples. Basta somar os dias da data do seu nascimento até chegar a um único número, de 1 a 9. Mas caso dê 11 ou 22, não precisa de somar o 1+1 ou o 2+2, pois estes são números especiais com significados próprios. Dizem que o 11 tem um misticismo muito forte.

Se quisermos ter um comportamento mais alienado, neurótico mesmo, ainda podemos reunir várias coincidências com o número 11 ( existem coincidências? ). Na época dos atentados terroristas nos E.U.A e na Espanha, e-mails foram reencaminhados a falar sobre as "coincidências" do número 11:


- New York City tem 11 letras.
- Afeganistão tem 11 letras.
- "The Pentagon" tem 11 letras.
- Ramsin Yuseb - Terrorista que atentou contra as torres gêmeas em 93) tem 11 letras.
- George W. Bush tem 11 letras.
- Nova Iorque é o estado Nº 11 dos EUA.
- O primeiro dos vôos que embateu contra as Torres Gêmeas era o Nº11.
- O voo no. 11 levava a bordo 92 passageiros, somando 9 + 2 resulta em 11.
- O vôo Nº77, que também embateu contra as Torres, levava a bordo 65 passageiros, que somando 6+5 = totaliza 11.
- A tragédia teve lugar a 11 de Setembro, ou seja, 11 do 9, que somado dá:1+1+9=11.
- A data coincide com o número de emergência norte americano o 911. Que somado dá: 9+1+1=11.
- As vítimas totais que faleceram nos aviões são 254: 2+5+4=11.
- O dia 11 de Setembro, é o dia número 254 do ano: 2+5+4=11.
- A partir do 11 de setembro sobram 111 dias até ao fim de um ano.
- O famoso Nostradamus (11 letras) profetiza a destruição de Nova Iorque na Centúria número 11 dos seus versos...
- Mas o mais chocante de tudo é que se pensarmos nas torres gêmeas, damo-nos conta que tinham a forma de um gigantesco número 11. E como se não bastasse, o atentado de Madrid aconteceu no dia 11.03.2004, que somado dá: 1+1+3+2+4=11 !


( Oh, por favor, não levem tudo a sério! )

No tarot, a carta número 11 representa a força.

Mas o melhor nesse exacto momento é eu deixar de armar-me em taróloga, astróloga, numeróloga e bobeiróloga e lembrar-me o motivo de ter escolhido falar sobre esse tema. Ora bem, lembrei...Vou procurar aqui... Só um segundo... Ah, já está!!!

Li recentemente um artigo no Correio da Manhã - o artigo é de dois meses atrás, mas li-o tem apenas 2 semanas - com o título Livro de Paulo Coelho no cinema. E trata de qual deles? Justamente.

«Trata-se de ‘Onze Minutos’ e, de acordo com a revista norte-americana ‘Variety’, os direitos de adaptação do livro foram já comprados pela ‘New Line’ e pela produtora ‘Hollywood Gang’. ‘Onze Minutos’, recorde-se, é um dos mais populares títulos de Paulo Coelho, tendo já vendido qualquer coisa como 5,5 milhões de cópias em todo o Mundo.»

Coincidentemente, e se é que existem coincidências, recentemente também li um artigo na internet que tinha o título Brasileira narra o mundo da prostituição na Europa. Contava sobre a Mariana Brasil, que lançou na Itália - depois de publicados no Brasil e na Suíça - o livro "Entre Fronteiras - O Manuscrito de Sônia", que - aí está a coincidência - foi o livro que inspirou o Paulo Coelho a escrever o 11 minutos.

Paula Lee.



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  • «Paula Lee, 24 an...Oh, não é necessário repetir meus dados, disponíveis no meu site.Escrevo um diário desde que comecei a prostituir-me, mas nunca pensei que publicaria um blog. Talvez porque seja mais simples escrever um livro, com histórias já acabadas, do que expor, em tempo real, o que vai surgindo, sem tempo para reflexões mais prolongadas.Gosto de usar a expressão "terapeuta sexual" porque atender um cliente envolve muito mais do que uma simples equação geométrica para saber o quanto devo abrir as pernas.»
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No divã:

    «Costumo dizer que somos para as pessoas um reflexo do que elas são para nós. Alguns clientes me ligam e perguntam como vou atendê-los. A resposta é simples: eu não sei. E não tenho como saber, até o momento em que ele estiver comigo. Há todo um procedimento de descontracção e de relax, quando o cliente está predisposto para tal.

    Posso dizer que sou selectiva com os meus clientes. O que selecciono não é aparência ou a posição social. O que prezo é a postura, o respeito, etc. Não é porque faço esse trabalho ou porque me pagam que sou obrigada a atender quem não quero. Quanto maior é o tempo que gastamos com as pessoas desagradáveis, menor é o que temos para as que nos agradam.

    Não sou levada por conversas ou chantagens do tipo:

    1- Me faça mais isso ou aquilo que te dou mais dinheiro.
    2- Me trate bem que ganhas um cliente.
    3- Me atenda agora porque sou um gajo bonito e você não vai se arrepender.

    Minhas respostas são as seguintes:

    1- Comigo o cliente não tem sempre razão. O corpo é meu e faço dele o que bem entender. Quando um cliente vem, está consciente das minhas condições. Não há dinheiro no mundo que me suborne, ou que faça que eu vá contra os meus princípios.
    2- Não preciso que me induzam a tratá-los bem. Como digo, é um reflexo. Se o cliente for um bom homem enquanto ser humano, será tratado bem. Não será tratado como os outros, nem melhor, nem pior, independente do dinheiro que me dê. Será tratado como uma pessoa única.
    3- Pouco me importa a aparência física ou a condição social. Não trabalho só para homens bonitos ou só para homens muito ricos. Trabalho para aqueles que podem recompensar o meu tempo, em troca de um momento de convívio, relax e prazer.

    Em geral, tenho muitos e bons clientes, meiguinhos, educados, simpáticos (etc), o que faz com que o meu trabalho seja menos desconfortável. Tudo isso graças ao facto de ter aprendido a ser selectiva. Atendo, numa primeira vez, pelo menos 99% dos clientes que me procuram. Tiveram o trabalho de ler o jornal, de me ligar, de achar meu endereço, de subir e bater à porta. Mas nada me obriga a atendê-los uma segunda vez.

    Talvez por causa dessa minha postura, muito rara é a ocasião de aparecer alguém que eu não queira atender. Só tenho que agradecer muito a Deus pelos clientes maravilhosos que tenho.

    Com esse blog que também serve de terapia para os clientes, sento-me no divã e posso avaliar intimamente o passar do tempo e as experiências adquiridas.»

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Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Creative Commons License
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